Matemática dos afetos


Se você é um professor 'do tipo cara valente', daqueles que acham que a autoridade em sala de aula se constrói à base da voz alta, saiba: é capaz de estar fazendo muito mal ao seu aluno.


“Existe um certo consenso de que o professor de matemática é mais racional e menos afetivo”
É o que diz a professora de matemática Rosemeri Vieira Dittrich, que defendeu tese de mestrado na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) sob o título Ensino e aprendizagem de matemática: o sucesso é possível. Em seu trabalho, Rosemeri conclui que, antes de pensar ementa ou currículo, é fundamental refletir sobre a relação aluno e professor.


"Existe um certo consenso de que o professor de matemática é mais racional e menos afetivo. Talvez até seja mesmo e isso tem de mudar. Se o aluno não simpatiza com o professor, ele não vai simpatizar com a matéria", afirma Rosemeri, que começou a atuar como professora de matemática em 1998 dando aulas para alunos do ensino fundamental e médio de Curitiba.


Assim, antes de ensinar, seria necessário aprender a se comunicar. "A palavra transforma o pensamento em pensamento verbal, torna as coisas inteligíveis", diz um trecho da tese de Rosemeri.


A professora dá o exemplo do psicanalista Carl Jung, que estudou por anos a construção e a desconstrução de signos e símbolos por meio da linguagem. Jung, em seu livro Memórias, sonhos e reflexões, narra a época em que estudou matemática: "A álgebra parecia tão óbvia para o professor, enquanto para mim os próprios números nada significavam [...] O fato de nunca ter conseguido encontrar um ponto de contato com as matemáticas [...] permaneceu um enigma por toda minha vida".

 

Com matemática e com afeto

Muitos (muitos mesmo) especialistas dizem que a matemática é uma das ciências mais difíceis – afinal, números (só para ficar na matemática básica) são invenções da cabeça do homem. Começam e terminam na nossa mente. Alguns alunos têm dificuldade de entender esse tipo de abstração e, muitas vezes, calam-se, por receio de fazer alguma pergunta pouco inteligente.
A maioria dos alunos relacionou a afeição pelo professor ao gosto pela matemática


A professora admite que, no começo da carreira, não tinha muita paciência com alunos que apresentavam maior grau de dificuldade. É a velha história: é muito mais fácil colocar o centro do problema no outro do que em você mesmo. 


"Há estudantes que não entendem, por mais que se explique. E quanto mais não entendem, mais medo eles têm", explica Rosemeri. "Ficam com medo de não passar na prova, de serem ridicularizados. A função do professor é ter calma, ficar próximo e dar segurança a esses alunos".


Com o afeto e sabedoria, Rosemeri selecionou bons alunos em matemática e propôs uma conversa. Uma pergunta, na verdade: qual seria a razão desses alunos terem sucesso na matéria?
A maioria relacionou, além do gosto pela matemática, a afeição pelo professor.  A educadora, no trabalho, conclui:
"A afetividade e o papel das emoções fazem parte integrante da formação e compete ao professor canalizar a afetividade para possibilitar a construção do conhecimento na sala de aula. O professor é fundamental para o sucesso do aluno na disciplina da matemática."
Thiago Camelo